“Se você não preparar seus olhos, nunca irá conseguir enxergar com o coração”.

 

 

Olá pessoal!

Hoje gostaria de começar a nossa conversa contando uma história, uma narrativa real ou como dizem nos filmes: “baseada em fatos reais”...

Neste conto, eu sou uma personagem coadjuvante, pois o papel principal, vocês descobrirão em breve... Tudo aconteceu há mais ou menos vinte anos atrás, quando eu lecionava na Educação Infantil para alunos(as) com idades entre 5 e 6 anos.

Eu tinha uma aluna bastante agitada, de nome muito diferenciado que não cabe aqui escrever, para não identifica-la. Ela gostava de fazer as atividades, de ouvir as histórias, de participar, mas não parava quieta um segundo... Menininha esperta, mas que às vezes, tirava a paciência da professora, pois ela não parava nunca, nunca, nunca: estava sempre levantando de sua mesa, visitando o lugar dos(as) colegas e conversando.

Naquela época, a escola pública em que eu trabalhava, atendia uma população bem carente que apresentava muitas dificuldades financeiras, sobretudo no que dizia respeito ao direito a uma moradia digna. Eu me realizava como profissional daquela instituição, pois pais, mães, alunos e alunas, valorizavam o ensino e respeitavam seus(suas) professores(as).

Certa tarde, a garotinha chegou mais agitada ainda e eu resolvi lhe perguntar o motivo de estar mais disposta do que em dias anteriores. Ela me respondeu que seu pai viria busca-la e que estava muito feliz por isso. A menina sempre me dizia que o pai trabalhava muito, que levantava antes do sol nascer e só voltava para casa à noite...

Quando chegou o momento de ir embora, era costume os pais virem até a porta da sala de aula para buscar os(as) filhos(as). No entanto, o pai da nossa protagonista da história, não veio...

Porém, eu observei que mesmo assim, ela não estava chateada e que apenas demonstrava um pouco de ansiedade. Após todos os(as) colegas irem embora, fui conversar com ela para que não ficasse aflita... E utilizando o discurso de “toda” professora, eu me aproximei dela e disse:

_ Não se preocupe querida, seu pai deve estar chegando, e eu ficarei aqui com você até o momento em que ele vier te buscar... Ela então, me respondeu sorrindo:

_ Professora, eu só estava esperanto todos irem embora, para pedir à você, para ir até a porta da escola comigo. Sei que meu pai estará lá me esperando... Ele não entra, porque não tem com quem deixar o carrinho...

Naquele momento sorrimos uma para a outra... Ela pegou a mochila, eu a minha bolsa e saímos de mãos dadas... Ao chegarmos na porta, estava lá o pai da garotinha esperando pacientemente, e segurando o carrinho que ela havia falado...

 

PEQUENOS MOMENTOS PODEM TORNAR-SE GRANDES SE TIVERMOS OLHOS PARA VER

 

Nada na vida irá permitir que eu me esqueça daquele momento: ele acenou para mim e eu sorri para ele.

A menina correu em sua direção: ele olhou para ela com todo amor de pai e ela retribuiu com o mesmo amor de filha. Se abraçaram carinhosamente... assim, o pai a pegou no colo e a colocou dentro do carrinho, em cima das caixas de papelão...

Sim, aquele senhor era carrinheiro, nome informal utilizado para designar a profissão daqueles(as) que trabalham empurrando carrinho de mão, recolhendo, em sua maioria, papelões pelas ruas...

Fui para casa naquele dia, pensando naquela cena, da qual jamais me  esquecerei. Refleti muito sobre a simplicidade daquele momento e, então, compreendi que a felicidade se faz presente nas pequenas coisas, nos pequenos gestos, nas simples atitudes... Foi quando, de repente, me veio à memória, uma história que eu tinha lido, há algum tempo para aquela minha turma da Educação Infantil...

Chamava-se “A Bruxa Salomé” de Audrey Wood e trazia em seu enredo uma mãe carinhosa e de muita coragem que enfrentou uma bruxa poderosa na intenção de livrar seus filhos de um terrível feitiço. Mãe e filhos eram tão unidos e se conheciam tão bem, que a matriarca foi capaz de salva-los com a força de seu amor.

Foi o amor demonstrado por pai e filha na vida real, que resgatou da minha memória essa história, pois apesar do título ser “A Bruxa Salomé”, o intuito da narrativa é demonstrar a importância do amor e da união na família. Assim, o reencontro que presenciei entre minha aluna e seu pai naquele dia, me fez perceber que precisamos estar atentos, pois a felicidade pode se fazer presente nos simples momentos da vida.

Assim... eu aprendi uma grande lição que carrego comigo: “Se você não preparar seus olhos, nunca irá conseguir enxergar com o coração”... Penso que eu estava pronta para vivenciar aquele momento entre pai e filha, pois eu poderia estar com pressa e levar simplesmente a menina até a porta da escola sem perceber a cena...

Quantas vezes a correria do dia a dia, nos cega e nos impede de perceber as belezas que acontecem ao nosso redor: o dia ensolarado, o azul do céu, o voo de um beija flor, o canto dos passarinhos, os ipês amarelos, o sorriso do seu filho, da sua esposa, do seu marido, da sua sobrinha, dos seus alunos...

Pequenos momentos podem tornar-se grandes se tivermos olhos para ver!

Um grande abraço e até a próxima!

Janayna.

 

Referências

WOOD, Audrey. A bruxa Salomé. 9ª ed. São Paulo: Ática, 1999. 32p.

 

 

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6 comentários

  • qaMprWocQxEv

  • wpdSNcKbZLvI

  • Boa tarde Isabela!
    Que lindo: pedagogia da alma, amei isso!
    Que saudades! Sim, aqui pode ser um espaço para recordamos nossas aulas e aprendermos juntas.
    Obrigada pela leitura!

  • wAQKfkRygUIpG

  • jgzJTLAcbH

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